ACONTECE
O que é letramento transmídia?
O letramento transmidiático é entendido como um conjunto
de capacidades, práticas, valores, sensibilidades e estratégias
de aprendizagem.
O volume de informações produzidas e consumidas no nosso cotidiano sinaliza para o acesso ao conhecimento de forma expandida, para além dos livros e das salas de aula. Faz parte da cultura dos jovens o uso de dispositivos tecnológicos conectados à internet em seus cotidianos, o que, de outra forma, vem estimulando a aprendizagem informal fora dos contextos educativos, como espaços-tempo caracterizados pela predominância do entretenimento audiovisual, dos videogames e das práticas sociais que giram no entorno das plataformas de redes sociais como o Instagram, Tik Tok, Youtube, dentre outras.
É nesse contexto que os ambientes escolares são desafiados, promovendo transformações nas práticas de ensino e aprendizagem, exigindo novos letramentos que, de forma mais ampla, podem ser compreendidos como um “conjunto de habilidades básicas e avançadas relacionando aptidões individuais com práticas sociais, cruzando a fronteira entre o conhecimento formal e informal”¹.
O que os jovens fazem com as mídias? Como aprendem com as mídias? são perguntas-chave para se compreender como as habilidades e competências adquiridas pelos jovens, através do uso cotidiano dos recursos tecnológicos e vivência na ambiência digital, podem produzir sujeitos autônomos em seus processos de aquisição de conhecimento, preparando-os para o consequente protagonismo nas realidades em que estão inseridos, inclusive em sala de aula.
O professor, nesse cenário, é desafiado a preparar o jovem no sentido de desenvolver habilidades e competências que o permitam ler e escrever de forma crítica e responsável, protagonizando a produção de conhecimento que possibilite o exercício de uma cidadania plena.
Como podemos ajudar nesse processo?
As mudanças em curso tornam emergente revisitar as realidades e desafios impostos à educação frente às mídias digitais, tendo em vista não somente as questões de acesso às tecnologias, mas também no sentido de refletir acerca dos modos de aquisição de informação/conhecimento e práticas sociais advindas dessas tecnologias.
Assim, acreditamos que o caminho é o do letramento transmidiático, a capacidade de – frente aos desafios do mundo conectado e do gigantesco e frenético fluxo de informações – ler e escrever de forma crítica e responsável, possuindo, frente à cultura colaborativa, um conjunto de capacidades, práticas, valores, sensibilidades e estratégias de aprendizagem que, mais além, podem colaborar com práticas pedagógicas capazes de gerar maior envolvimento e proatividade por parte dos estudantes, em sala e no tecido social.
Configurando-se como fator de inclusão ou exclusão social, reconhecer as habilidades e competências de produção, consumo e pós-produção de mídia no contexto da cultura transmidiática dos jovens é valorizar o saber aprender e saber fazer desses sujeitos e, mais além, é formar cidadãos livres e aptos a protagonizar escolhas conscientes e mais justas ao coletivo.
De que forma estamos fazendo isso?
A Rede de Pesquisa em Narrativas Midiáticas e Práticas Sociais, que envolve distintas Instituições de Ensino Superior, através do projeto de pesquisa intitulado Letramento Transmídia, Práticas Comunicacionais e as Realidades Brasileiras, tem como objetivo mapear e descrever as competências transmídia dos estudantes do ensino médio das regiões Nordeste e Centro-Oeste do país.
Com o intuito de elaborar um diagnóstico que seja capaz de orientar a produção de estratégias comunicacionais e pedagógicas para escolas das citadas regiões, permitindo avaliar se (e como) as particularidades dos contextos socioeconômicos e culturais das distintas regiões produzem diferenças ou semelhanças em relação às competências transmídia desenvolvidas pelos adolescentes, o projeto busca formar um corpus de conhecimento que permita a proposição de políticas públicas e ações inovadoras para o enfrentamento dos desafios da educação brasileira.
Dessa forma, a pesquisa adota como referencial teórico-metodológico o Transmedia Literacy Project, desenvolvido por Carlos Alberto Scolari (2018) e equipe, envolvendo 10 Instituições em 8 países: Espanha, Austrália, Colômbia, Finlândia, Itália, Portugal, Reino Unido e Uruguai. A partir do diálogo com a equipe internacional, a equipe brasileira, levando em conta adaptações que se fizeram necessárias à realidade da educação no país, vem se aproximando de instituições escolares públicas com o intuito de elaborar o mapa de competências transmídias dos jovens do ensino médio do Brasil.
Por que isso é importante?
Considerando que a maioria dos professores foi formada de maneira monomidiática, o Letransmídia se faz relevante quando se observa que as tecnologias da informação e comunicação têm rendido muitas discussões que investem no acesso em termos de conexão e equipamentos, muitas vezes deixando à margem as práticas que giram em seu entorno. É nesse contexto que acreditamos que, para além do acesso, é extremamente importante mapear as habilidades e competências de produção, consumo e pós-produção desses jovens antes mesmo de delinear estratégias de letramento para as mídias ou qualquer outra ação de política pública para a educação. É com o saber desses jovens e sua autonomia para a produção de conhecimento com o uso das mídias digitais que seremos capazes de educar para o mundo conectado.
¹ Definição dada pela pesquisadora Sonia Livingstone na página 10 do artigo “Internet Literacy: a negociação dos jovens com as novas oportunidades on-line”, publicado na revista Matrizes, São Paulo, ano 4, n. 2, p. 11-42, jan./jun. 2011.